terça-feira, 8 de junho de 2010

O tempo passa, as necessidades começam a ficar famintas, e a gente as alimenta como convém. Eu passei muita fome durante épocas específicas. E por muito tempo se estendeu uma desnutrição. O corpo vivia como se vegetasse, sem energia, sem força, sem sentido, perdido, desnorteado, como morto de fome: um processo intenso de sensibilização, fragilidade, que se espalha. Primeiro a perda da consciência, da lógica, depois o desconforto existencial, como se nada tivesse uma direção, seguido da irritação cutânea, enfraquecimento respiratório, excesso sensorial, desde as vistas até! Uma fome progressiva, profunda, e que não há como satisfazê-la. Eu procurava situações que me tirassem da morbidez vital e nada funcionava. O corpo resistia - tinha que resistir. Morreria! Mas resistiria até o último suspiro. Morria lentamente a cada gesto. O corpo sincronizado: agoniza, respira, agoniza, respira, agoniza! Tranquilamente durante seu próprio sepultamento. Surta num instante de vacilo, e se perde dentro da euforia decadente, se rompe diante do abismo, e parte em pedaços desproporcionais. É difícl explicar, mas o corpo foi destruído, pior que à queima roupa, alcança um estágio de lesão generalizada, desprotegido, feito o feto retirado do leito: assusta! Liqüefaz feito lágrimas descontroladas, paralisa! Perde o tom, o dom. Pra sair dessa: muita força, determinação, e coragem. Pra não se render: muito amor próprio. E acima de tudo: vontade! Desejo! De viver, de algo a mais, estritamente particular. Objetivo! Para se manter na luta. Se eu não tivesse objetivo, talvez não fosse nada. Sonhos! Se não tivesse sonhos, nem levantaria da cama. Se não tivesse eu mesma, com certeza não teria nada. E para me ter é necessário tudo isso. Se não meu corpo padece, entristece, e foge para onde não haja vida. Eu estou encadeada a tudo isso para viver, para ascender dentro de mim, quão mais importante que fora. O mundo fora não é - não será - porra nenhuma, enquanto não nos atentarmos ao nosso complexo mundo interior. Tudo está encadeado. Enquanto o ser humano não cresce o mundo nunca irá crescer. Não é óbvio isso? O mundo é o que fazemos dele, o que fazemos é o que somos. Por isso a evolução de poucos faz diferença! Incentiva a de outros, plorifera, pouco a pouco. Quer ser algo porra? Porque então está deixando se igualar a mediocridade alheia? De que lhe serve tanta fraqueza? Eu não sei não, mas não hei de completar os meus dias com mistura de farelo, daquele pão velho, tá me entendendo? O que eu desejo para minha vida é muito maior, muito maior! É pra ficar marcado na história, no mínimo. É pra me marcar.

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