sexta-feira, 16 de março de 2012

"estamos todos perdidos", sussurrou ao meu ouvido, o velho que me fazia companhia naquele ônibus, que destinava sabe-se para onde... mal dei atenção, e à janela vi um moço caminhando descalço no asfalto quente e forte, naquele instante comprimi minha respiração, e rapidamente passei adiante. no outro bloco observava uma senhora, andando de roupas coloridas, como quem pede atenção, na sua mão esquerda levava uma margarida muito graciosa, símbolo de sua simpatia solitária. de repente me deparei com um pavor diante do mundo, um descontrole interno, de quem não quer ver e tocar o que se tem à frente: eu não queria, estava tão sujeita e vulnerável à tudo aquilo, que lentamente meu corpo se fragilizava como uma pétala de flor, tudo se encolhia e expandia num fluxo ritmado, pesava sobre os ombros duros e queimados da estação, as pálpebras adquiriam uma sonolência nunca vivida, lá estava a morte diante de meus sentidos, uma queda sem fim e horizontal, tudo que passasse por mim era correnteza, água que inundava, se eu assistisse a dor alheia, me apropriava do planeta que residia, sem mensurar toda sua massa em meu corpo. pensei: "estamos todos perdidos", o velho me entreolhou e sumiu.

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